Eles Ainda Entram na Barraca

Mas por quanto tempo? A despedida do Pré-Infantil chegou e lá vamos nós para o Infantil

Flavia Cabral

12/1/20254 min read

Os meninos, ali brincando, rindo, arrumando a barraca. Existindo na condição de crianças.

Lá vão eles, meus meninos do Prézinho, a caminho da sua última missão antes de subirem de categoria

Serão dois anos ali, jogando com a bola da liga japonesa, regras MLB e sentindo o tempo passar na pele. Quando mudarem de categoria de novo, estarão mais altos do que eu, talvez de bigode, com a voz grossa, gritando "ATIBAIA" com uma força que ainda não reconheço.

Não existe um manual da maternidade para isso.

Acompanhar esses meninos de perto e ver os maiores tão crescidos, tão diferentes, me quebrou. Porque daqui a dois anos, quem vai estar ali é o Nico. O meu Nico. E seus colegas, que chamo de meus meninos. Eles ainda escolhem brincar, se esconder, fazer bagunça dentro da barraca. Os outros, dois anos à frente, já não cabem mais ali — nem física, nem simbolicamente.

A infância vai indo embora assim: em silêncio, numa escolha diferente, num passo mais comprido, numa conversa que toma o lugar do esconde-esconde. Daqui para frente, cada campeonato vai ser assim: um pouquinho menos barraca, um pouquinho mais conversa. Um pouquinho menos criança, um pouquinho mais crescido. Um pouquinho menos debaixo da minha asa, um pouquinho mais no mundo — esse mundo que eu só observo.

Essa transição não é só deles. É minha também.

O último campeonato do Prézinho, que está chegando. Depois dele, não há mais volta.

"Cuidado para não estragar a barraca, meninos. É dos pequenos."

Eles me olharam, riram e continuaram a bagunça.Ufa, ainda eram os mesmos meninos de sempre.

"Aqui só entra Pré-Infantil. Foi a tia do Pré que trouxe e a barraca é nossa", um deles decretou.

A poucos metros dali, os maiores estavam reunidos. Os atletas do último ano do Infantil com seus 12 anos — alguns já da altura dos técnicos — dormiam, falavam do jogo, de notas da escola, de sonhos de passar no CT. Nenhum deles pensou em entrar na barraca. Existiam num outro ritmo, num outro tempo.

E aí me deu o estalo: o fim estava chegando. Em poucas semanas, nos despediremos do Prézinho e iremos todos, pais e crianças, para a categoria que demarca o limite entre infância e adolescência. É o tempo fazendo seu trabalho — rápido demais para o meu coração.

A próxima categoria já não tem a mesma leveza da infância. Os meninos crescem na nossa frente, às vezes sem perceber que estamos olhando. E o jogo fica mais disputado.

No Prézinho, eu sou indispensável. Meu filho ainda quer que eu vá, que eu torça, que eu exista ali para dar segurança. Meu olhar ainda é porto seguro, é a própria barraca.

Mas logo, no Infantil, serei cada vez menos necessária. Estarei lá só para observar e torcer — porque como mãe eu quero e gosto. E porque, como mãe, aprendi que amar também é deixar ir.

Essa semana vai ser um marco: será o último campeonato do Prézinho. Londrina, dias 5, 6 e 7 de dezembro. Depois dele, não há mais volta. Foram três anos guardados na memória, três anos de tanto aprendizado, tanto crescimento. Eu sei que vou chorar essa despedida. Já estou chorando.

No último dia do campeonato do Sub-12, um pedido me fez sorrir. Quando íamos guardar a barraca, a menina do time, já da minha altura, falou:

"Tia, posso entrar?"

Parecia que ela estava ensaiando o campeonato inteiro para pedir isso, com medo dos outros "tirarem sarro".

"Claro, gente. Entra aí", falamos para ela e o colega.

Eles deitaram, rolaram e riram naquele espaço. Falaram qualquer coisa um para o outro e saíram felizes. Cinco minutos, ninguém reparou, ninguém estranhou. Ainda bem que ainda dá para ver lampejos de infância, mesmo naqueles que já vão completar 13 anos e parecem enormes.

E voltamos para casa. Pendurei a barraca sobrevivente dos três dias de campeonato na despensa, como quem guarda uma lembrança nostálgica de uma boa viagem. Sei que logo não vou mais precisar gritar para eles tomarem cuidado para não estragá-la.

E a barraca, que foi tão disputada, vai ser só da Olívia e dos mais novos mesmo. Ela dará espaço para um mundo tão grande que dá medo, e animação.

Eu levei a barraca, o tempo está levando a minha criança. Fazer o quê? Coragem, é isso que a vida quer da gente.

A barraca fica para os menores. Os grandes ganham o mundo. Estamos chegando, adolescência.

Eles estavam ali, amontoados dentro da barraca que eu comprei para Olivia e os irmãos mais novos. Eu nem imaginava que aquele objeto simples faria tanto sucesso.

Entre um jogo e outro, eles chegaram e se deitaram — os quatro meninos de 10 anos do Pré-Infantil que tinham ido ajudar o Sub-12 no Campeonato Brasileiro de Clubes. Deitadinhos, alinhados, brincando, rindo. Gritei:

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