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O nome dele não estava na lista
Para o meu filho, que está crescendo de um jeito lindo, mesmo nos dias difíceis. O que você construiu em você, ninguém tira — nem a falta do seu nome na lista.
Flavia Cabral
7/18/20253 min read
Hoje, sexta-feira, 18 de julho, saiu a lista com os nomes dos meninos convocados para a Seleção Brasileira U10 Pan-Americana e o nome dele, do Nico, não estava lá. Por alguns instantes, tudo ficou suspenso, como se o tempo tivesse segurado a respiração com a gente. Olhamos juntos várias vezes: “J-M… KD o N?”. Não estava.


Errando que se aprende, né?
Ele chorou. Ficou bravo. Ficou triste. Sim, ele teve a reação clássica de um menino de 10 anos. Disse que quer parar com o beisebol, vender tudo, e que acha que gostaria de tentar outro esporte. Pela primeira vez, disse em voz alta, para mim e para ele mesmo, que talvez o beisebol tivesse acabado. E é preciso uma coragem imensa para admitir que algo que a gente ama começou a doer.
Mas eu conheço esse menino. Conheço o esforço que ele fez para chegar até aqui. A forma como se jogou no sonho, com corpo, alma e coração. Os treinos que não faltou e os que pediu para fazer a mais; os vídeos de jogadas que ainda assiste; as conversas e adaptações de sua própria personalidade para se encaixar no sonho de representar o Brasil na Venezuela.
Aliás, acredito que talvez essa tenha sido a maior coragem: tentar mudar o que apontavam como problema — o comportamento, a reação, o jeito explosivo de sentir demais. Ele ouviu os técnicos. Tentou mudar. Tentou respirar fundo, não se exaltar com ninguém, ser frio com os colegas e em campo. Tentou crescer por dentro. E conseguiu. Na seletiva, a gente viu que ele mudou — mas ainda não foi o suficiente.
O corte da lista não apaga isso. Não apaga o tanto que ele cresceu, e não só como atleta. Hoje, ele não sabe se vai continuar. E tudo bem. A força dele não está em aguentar firme, mas em ser honesto com o próprio coração e reconhecer quando tudo está pesado demais.


O que erá que ele vai escolher?
Ele só tem 10 anos e tem o direito de desistir. De pausar. De mudar de ideia. Ele tem o direito de sentir que já deu — e, mais tarde, descobrir que ainda não. Combinamos que vamos dar o tempo que ele precisar. As férias inteiras, talvez um pouco mais. E se o beisebol voltar para ele, ótimo. Se não voltar, tudo bem também.
Porque o nosso amor por ele não depende da camisa que ele veste, nem do esporte que escolhe. Não depende das qualidades que eu o vejo apresentar, nem da dedicação para alcançar algo que parecia próximo, mas que agora não existe mais na cabeça dele — mesmo a gente lembrando que haverá novas seletivas todos os anos. Nosso amor por ele simplesmente é, porque ele é nosso filho. E ele merece entender isso. E entender que, aos 10 anos, está tudo bem mudar de amor, de sonho e de ideia. Nada precisa ser permanente para uma criança tão nova.
Nosso maior desejo é que ele sempre decida seus caminhos assim: com a mente clara, com calma, de coração aberto e livre, e com a sensibilidade que já é dele.
O nome dele não estava na lista.
Mas está na nossa história, no nosso orgulho, na nossa torcida. E, seja qual for o caminho, estaremos do lado de cá, com os olhos brilhando e o coração em campo.
Nota da Autora:
Essa mãe aqui vai parar de escrever sobre beisebol durante as férias (talvez um pouco mais, depende dele), mas, quem sabe, não voltamos assim que elas acabarem? Por enquanto, estarei com o pé na areia, tentando avistar baleias, e não strikes ou balls. Parabéns aos meninos que conseguiram, vocês são feras demais.
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